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O tempo das memórias 2025.
O museu de Villèle destaca as obras da exposição Aurélie, Betzy et les autres...

Por ocasião do 20.° dia nacional das memórias da escravatura, dos tráficos de escravos e respetivas abolições, o museu histórico de Villèle participa na campanha #Patrimoines Déchainés, iniciada pela Fundação para a memória da escravatura no sentido de valorizar os patrimónios inerentes à escravatura.

Este ano, o museu propõe ao público descobrir as obras que a artista Ann Marie Valencia realizou em 1999 para a exposição Aurélie, Betzy et les autres…

Zélie, créole, pioche. Ann Marie Valencia. 1999. Peinture acrylique.
Coll. Musée historique de Villèle, inv. 2000.2.4

Ann Marie Valencia é uma pintora atemporal e alheia a modas. No entanto, as obras apresentadas no museu de Villèle para a exposição Aurélie, Betzy et les autres… (1999) rememoram o drama de um passado esquecido em que a Mulher e a Natureza reinavam em harmonia.

Memória de Mulheres… Mulheres que dirigiram propriedades: Ombline Desbassayns (1755 – 1846), com firmeza; Céline de Villèle (1820 – 1896), com submissão; Lucile (1901 – 1976) e Pauline (1902 – 1990) de Villèle, com abnegação.

Memória também de mulheres sem rosto, ainda presentes no papel amarelado dos documentos de arquivos através de uma classificação sumária: um apelido, um tanto ou quanto fantasista, dado arbitrariamente por uma sociedade dominante; uma função, pouco original mas suficientemente esclarecedora para lembrar uma época de servidão; uma vaga pertença étnica às raízes que, porém, se perdem na incerteza de uma localização inexata ou até desconhecida; e, por fim, um valor mercantil, sórdido indício de riqueza que, retrospetivamente, nos parece tão irrisório quanto indecente.

Memória de um passado recente que todavia altera a lembrança. Memória de um cenário doméstico incessantemente transformado que mistura, com o passar do tempo, algodão, café, especiarias e cana-de-açúcar…

Ann Marie Valencia recria um mundo povoado de mulheres, belas, tão belas no exercício dos seus trabalhos ingratos e das suas tarefas diárias esgotantes. Obras que nos presenteiam com a doçura de um estilo de grande maturidade. A inteligência do seu olhar restitui-nos a beleza contrastada com rostos marcados pela dureza de um labor repetido. Embora as suas pinceladas leves, tão leves como pétalas de rosas, acariciem com delicadeza o suporte de tela, subtilmente coberto de papel de seda finamente amassado, a artista não cede a efeitos fáceis que seduzem só por seduzir. Por detrás da obra, encontra-se o compromisso artístico de uma grande autenticidade e o olhar terno e cheio de respeito de uma mulher pela Mulher. É também com as cores dos sentimentos que Ann Marie Valencia restitui do seu modo os fragmentos exumados e realçados de uma história dolorosa que não desvenda todos os seus segredos.

Jean Barbier,
Conservador honorário do Museu histórico de Villèle


«Ao longo dos anos, estes lugares tornaram-se familiares para mim. Há apenas uma ravina que separa o meu estúdio de artista da Chapelle Pointue e do museu de Villèle. Deixei-me envolver a pouco e pouco pelas cores dos seus jardins, pela sua luz e pela sua história tão presente. Hoje entendo até que ponto fui cativada por estas mulheres e respetivas histórias…».

Ann Marie Valencia (1950-2012)

Ann Marie Valencia : Aurélie, Betzy et les autres… : mémoire d’une exposition
Realizador Jean-Paul Dupuis

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